quarta-feira, 30 de março de 2022

Bent u weleens meegetrokken in een onontwarbaar mysterie? Zoeen die door het hoofd blijft waren en zelfs de alledaagse gebeurtenissen in een ander daglicht zet, die uw leventje van alledag bezwaard, bezwangerd, bezondigd maakt? Maar u doet niets anders dan u gewoon bent te doen! De kranten en de televisie vertellen niks nieuws, weekbladen lijken hun inhoud te herhalen. Het gezinsleven kabbelt rustig voort, maar toch voelt u een benauwdheid, een onbestemd gevoel. Alles lijkt terug te wijzen naar het boek dat u zojuist gelezen hebt. 



Mooie kans dat dat boek "De dood en het meisje" van Juan Carlos Onetti was. U las het hele boek, tot aan de allerlaatste pagina, sloeg het dicht ... en bleef vol verwondering en verbazing op uw leesplek achter. Er was niets aan te doen, u was verloren. Het verhaal zit in uw brein en laat niet los voordat u die ene vraag heeft beantwoord. Die ene vraag, het probleem dat u op wilt lossen: Hoe komt het nu eigenlijk dat de moeder van dat meisje zwanger kon worden terwijl ze toch wist dat het haar dood zou worden. Die ene, typerende vraag die ook de hele bevolking van het verzonnen dorp Santa Maria voor korte tijd bezig houdt. In de hoop op een antwoord zult u het boek nogmaals pakken, opnieuw lezen. En het zal u niet helpen; de vraag wordt alleen maar prangender, krijgt gezelschap van andere vragen. LAS u het wel goed? De perspectiefwisselingen maken het u niet makkelijk, zinsconstructies laten geen tips los. Het is en blijft een bitter mysterie tot ver na de laatste bladzijde.

Het gebeurde mij. Ik las "La muerte y la niña" in de negentiger jaren, in het Spaans, en werd erdoor gekidnapt. Een vertaling naar het Engels viel me, in electronische vorm, in handen - het sleepte me mee. Korte tijd geleden kwam uitgeverij Kievenaar met een vertaling naar het Nederlands. In een vertaling van Maarten Steenmeijer. Die man moet er slapeloze nachten van hebben gehad! Het is namelijk geen makkelijk boek voor wie gewend is aan uitgewerkte plotlijnen. En wie verwacht dat een schrijver alle vragen van een boek oplost komt bedrogen uit. Maar wie het aandurft te lezen en tegelijkertijd zijn brein te laten werken zal aan dit boek een enorm plezier beleven. Meerdere malen zelfs! 

domingo, 20 de março de 2022



O livro invisível 

Mas isto é louco demais para palavras! Uma só livraria de quakidade na cidade e eu estou tentando descobrir onde ela está. Rua doutor Morais, me disseram. Sim, sei onde fica. Começa atrás do cemitério de Soledade e vai até o rio. Mas não há nenhum sinal de livraria aqui. Deve ser ao final da rua, no bairro de Guama, sempre verás. Pego um ônibus e tento lá? Não há tempo, Vicente provavelmente já está esperando. A não ser, é claro, que ele também tenha sido atrasado pelo aguaceiro tropical. Sim, sim, eu sei, esses brasileiros não são da 'hora inglesa', mas eu não quero correr o risco. Tudo bem, então eu irei até a segunda travessa, se não vejo  a loja até lá, lá eu pegarei o ônibus. E, de repente passo pela Fox, nenhum Vicente à vista. A loja parece européia, não tem fechada descuidada iqual a maioria das lojas aqui. Até mesmo a vitrine tem algum senso estético. Uma exceção que ficou contemplando durante todo um cigarro. Últimas cinzas, o filtro fica quente entre os meus dedos. E já está ficando escuro. Na loja as luzes se acendem, vislumbro um homem magro com barba folhando um livro. Setor Filosofia, diz um sinal. Dificilmente é outra pessoa... "Vicente? Nenhuma saudação, mas de repente o livro que ele tinha em suas mãos aparece debaixo do meu nariz. Se eu conheço Plínio? Não tenho muita coisa com filósofos mortos, mas tive que traduzir algo de este cara para minhas aulas de latim  uma vez.  Naturalis Historiae - que parece caber aqui, nas margens da região Amazônica.

Mas Vicente constrói seu próprio mundo, que ele chama de Andara. Seu elemento é principalmente o silêncio, a linha vazia, a folha quase em branco. Com sua voz suave, ele tem algo de budista, mesmo quando falando do hinduísmo. Ou sobre mitos e lendas locais. Ele parece querer colar tudo junto, em sua cabeça mas também nos livros que escreve. A nova lenda! É a isso que ele parece quando estamos do lado de fora, fumando um cigarro. Barba característica, rosto magro - na verdade, ele poderia passar por uma versão moderna e masculina da Matinta Pereira. A única diferença é que ele não tem que voltar amanhã de manhã para comprar seu tabaco. Eu provavelmente sim, porque este é meu último cigarro e a esta hora do dia não há mais onde se pode adquirir fumo neste bairro. Figura mítica ou não, Vicente amarra tudo junto. Antes que eu perceba, a conversa se volta de repente para o Bhagavad Ghita, o livro "sagrado" da religião hindu. Também essa obra está entrelaçado - em certa maneira - com o Andara, ao qual ele persiste voltar. É um "contra-mundo", onde ele respira. E este pensamento me leva a um conceito tão intangível como "anti-matéria". O que então desliza à teoria quântica. "Eu gostaria de lhe dar este livro, você entende do que se trata". 

De uma velha pasta, descolorida aqui e ali, ele pega alguns livros. Demasiados para segurar na mão, um pequeno livro cai no chão. A asa e a serpente, publicado por um dos dois grandes jornais regionais. Eu reconheço o tamanho, o esquema de cores; este é um volume de uma pequena série que deveria promover a literatura da região. E, claro, este é um dos volumes que eu ainda não tinha visto. A capa está um pouco úmida e tem um pouco de areia, mas eu abro o livro para ler um pouco. Se eu gosto? Bem, depois de tudo o que falamos, vejo aqui um começo de Andara, sem dúvida. Eu gostaria de ler mais, mas estamos aqui para nos conhecermos, Vicente e eu. Mas ao perceber que estou lendo atentamente e fazendo algumas perguntas, ele gesticula que é para eu colocar aquele livrinho na minha mochila também. Em sua mão está outro livro, maior e com muito verde na capa. Um toque de dedo contra as letras brancas do título. Como eu traduziria isso? "oO Serdespanto", uma palavra que nem existe em português, e desconheço o conteúdo do livro. Para minha sorte, bons conselhos às vezes vêm de graça e a solução cai na minha cabeça com uma trovoada. Enquanto eu não conhecer profundamente o texto, vou deixá-lo em "Het huiverwezen". E depois, é claro, tenho que explicar isso ao Vicente. Sua voz está tremendo agora, ele está ficando empolgado, sim, isso foi um bom pensamento meu, ele acha. Com uma caneta emprestada do balcão da loja, ele escreve a data no livro, e que é para mim. Minha própria cópia, sim. Prometo fazer uma tradução do poema do título e o terminamos com um café no bar da livraria. 

Vicente chama sua Andara de "o livro invisível", mas afinal minha cópia é materializada; eu a vejo se exibindo no bar. E ainda ... No entanto, não é um livro, é uma mistura do cérebro de Vicente, de seu conhecimento de misticismo e mitos. É a fumaça de um cigarro, o último que fumaremos juntos. Amanhã eu também não terei que voltar para pegar o meu tabaco, Vicente empurra um pacote quase cheio na minha mão como um adeus. 


# Vicente Franz Cecim faleceu no dia 14 de junho do ano 2021. Requiescat in pace.